Teve início ontem (8), no Dia Internacional da Mulher, o evento Semana da Mulher: Justiça e Equidade, promovido pela Ecoliga-Rondônia, rede de cooperação e colaboração entre órgãos públicos, no canal da Escola da Magistratura do Estado (Emeron) no YouTube (youtube.com/EscolaEmeron). A programação continua nesta quarta (10), a partir das 16h (hora de RO), novamente no canal da Emeron (veja a programação), com inscrições durante a live, para certificação de 2 horas-aula.
Com mais de 600 visualizações e tradução em Libras, além de audiodescrição dos painelistas, o primeiro dia do evento teve a abertura oficial feita pela presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região (Rondônia e Acre), desembargadora Maria Cesarineide Lima. A magistrada contou um pouco de sua história pessoal: “Venho de uma família matriarcal, portanto a força feminina foi determinante na minha origem, apesar das dificuldades financeiras”. Coordenadora da Comissão de Responsabilidade Socioambiental do TRT14, Cesarineide pontuou que a criação patriarcal e machista que imperava nas gerações passadas sufocava as mulheres e seus talentos. “Apesar de hoje a mulher contar com um novo cenário, em que é possível alcançar o reconhecimento profissional e pessoal, segue nossa luta por igualdade substancial, com melhores oportunidades de acesso à educação e ao mercado de trabalho”, afirmou.
O primeiro painel, intitulado “É urgente falar de equidade de gênero”, foi composto pelas facilitadoras Cynthia Ciarallo, psicóloga e doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB), e Geovana Soares, representando a mandata coletiva da vereadora de Aracaju (SE) Linda Brasil, em que coordena a equipe de mobilização e movimentos sociais, mediadas por Ariel Rodrigues, do TRT14. Servidora do TRT da 10ª Região (Distrito Federal e Tocantins), Cynthia estabeleceu a diferença entre equidade e igualdade: “Nossa legislação fala que todos somos iguais perante a lei, mas a palavra é perigosa quando se trabalha apenas com quantidade, como o número de servidores homens e mulheres, por exemplo, pois quantidade não necessariamente anuncia a equidade, que tem a ver com condições de poder”.
Cynthia também falou sobre a palavra gênero, que foi muito rejeitada e alvo de polêmicas, e as expectativas construídas na história e na cultura em torno dos papeis de gênero esperados. “Gênero é uma categoria teórica que nos ajuda a dar alguma inteligibilidade sobre o fenômeno de que o corpo biológico não dá conta de explicar a existência, pois ele nos compõe, mas não nos define”. Geovana trouxe sua experiência enquanto travesti e assessora da primeira vereadora trans de Aracaju. “Faço parte de um grupo de mulheres em que 90% está compulsoriamente na prostituição como única forma de sobrevivência, em que a expectativa de vida é de 35 anos, são esses marcadores que precisamos discutir quando se fala na inclusão das mulheres trans nas discussões pautadas às mulheres”, disse ela. “No meu caso, me forjei na militância através do movimento feminista, inclusive, e não tem como falarmos de transfobia sem falarmos de machismo e misoginia”, completou.
O segundo painel, sobre “Saúde emocional como estratégia de prevenção à violência doméstica”, contou com três psicólogas do Tribunal de Justiça de Rondônia: Aline Dantas, Mariângela Onofre e Iuna Sapia, esta como mediadora. Lotada no Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, Mariângela começou falando sobre as diferentes manifestações da violência doméstica, previstas na Lei Maria da Penha, em especial a violência psicológica, que segundo ela começa muito antes da física. “A violência psicológica se instala de maneira sutil, invisível, mas faz parte de uma violência estrutural, que institui a ideia de uma condição de inferioridade da mulher e, na dinâmica psíquica feminina, a ideia de que a mulher é a responsável pela manutenção do lar e por tudo que dá errado no ambiente doméstico”, afirmou a psicóloga. Chefe do Núcleo de Perícia Psicossocial do Juizado, Aline complementou com algumas estratégias para lidar com essa violência psicológica: “Muito se fala da responsabilidade afetiva esperada naturalmente da mulher em relação ao outro, enquanto uma cuidadora, mas temos que pensar também na autorresponsabilidade afetiva, que é deixar de lançar tanto um olhar para os afetos do outro e poder olhar para as próprias necessidades, e isso é de uma grande complexidade para cada uma”.
Por fim, foi realizada uma apresentação do Projeto Aurora, do TJRO, com Mariângela, Iuna e a coordenadora do Núcleo de Acessibilidade, Inclusão e Gestão Socioambiental (Nages), Maiara Moraes, mediadas pela também servidora Simone Norberto. Criado a partir da Resolução n. 255 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de incentivo à participação institucional feminina no judiciário, o projeto prevê ações contínuas para promover melhores condições laborais e uma política institucional de ampliação da participação das mulheres. “Inicialmente, concluímos que deveríamos começar ouvindo as mulheres do TJRO, devido aos diferentes contextos, e essa primeira ação foi a Ciranda da Palavra, roda de conversa e espaço de compartilhamento de experiências e angústias”, informou Iuna.
A partir desse diagnóstico, o Projeto Aurora realizou várias lives, todas no YouTube da Emeron e que tiveram milhares de acessos, com temas como: ciclicidade e produtividade, sobre usar o ciclo menstrual como ferramenta; a energia feminina como caminho para a saúde mental; e a importância da participação masculina na divisão de tarefas domésticas. Maiara então comentou sobre a pesquisa desenvolvida pelo projeto, no âmbito do TJRO: “O formulário foi enviado para conhecer o perfil e entender as demandas das mulheres do judiciário, levantando dados sobre as condições psicossociais e de saúde mental para desenvolvimento de atividades em home office por parte das servidoras e magistradas, com vistas a promover políticas de inclusão, inclusive no retorno às atividades presenciais”. Com cerca de 500 respostas, foi possível identificar os desconfortos emocionais associados à sobrecarga de atividades profissionais e domésticas, por exemplo. Também foi disponibilizada, durante a live, a Cartilha Paz no Lar, de estratégias de proteção à mulher durante o enfrentamento à covid-19, desenvolvida pela Coordenadoria da Mulher do TJRO.
Tanto as lives anteriores do Projeto Aurora, como as do evento Semana da Mulher: Justiça e Equidade, ficam disponíveis permanentemente no canal da Emeron no YouTube para visualização posterior. O segundo e último dia do evento acontece nesta quarta-feira (10), das 16h às 18h, com os temas: Desafios contemporâneos da mulher no trabalho; Feminismo e deficiência; e Diálogos para 2030: Igualdade e equidade para o desenvolvimento sustentável. Confira a programação, clicando aqui.
Ecoliga-RO
Criada em 2017, a Ecoliga-Rondônia visa compartilhar boas práticas sobre ações organizacionais voltadas para a sustentabilidade, entre as quais compras compartilhadas, logística, destinação adequada de resíduos e ações de capacitação. Atualmente, é composta pelo TJRO, Emeron, TRT14, Tribunal de Contas do Estado de Rondônia, Ministério Público do Estado, Procuradoria da República em Rondônia, Procuradoria Regional do Trabalho de Rondônia e Acre, Tribunal Regional Eleitoral, Fundação Universidade Federal de Rondônia, Defensoria Pública da União e Seção Judiciária de Rondônia do Tribunal Regional Federal da 1a. Região.
Assessoria de Comunicação Institucional
Com informações da Emeron