Elisa com a mãe Débora e o irmão Pedro Gabriel
Quase quatro anos depois de uma mudança significativa, com novo lar e família, a história da menina Elisa é a evidência de que a adoção é um ato de amor que transforma vidas. A trajetória dela, que começou de forma trágica, com um acidente durante a enchente que debilitou sua saúde, chamou a atenção de um casal em São Paulo, que se habilitou, fez curso de preparação, passou por todas as etapas exigidas no processo de adoção. Hoje, Elisa é cercada pelo amor dos pais e do irmão. O final feliz da Elisa é o mesmo pelo qual esperam outras 17 crianças no Estado aptas à adoção. No dia nacional da adoção, histórias como a de Elisa servem de inspiração para outras famílias dispostas a esse gesto.
O que parecia improvável, devido ao perfil mais procurado por famílias adotantes, foi possível por meio da busca ativa (um trabalho que busca conectar crianças com famílias que estão dispostas a adotar um filho com esse perfil). “Em 2017 eu vi uma foto com a busca ativa da Vara da Infância de Rondônia e naquele dia me apaixonei. Eu sabia que tinha encontrado a minha filha”, lembra Débora.
Em 2018, após a conclusão do processo de adoção, a chegada da família para buscar Elisa no abrigo institucional causou comoção da equipe multidisciplinar. A mudança trouxe qualidade de vida para Elisa, que conta com tratamentos especializados acompanhados diretamente pelos pais. Mais do que isso, impactou de maneira positiva na vida do casal. “A gente aprendeu com a Elisa a ver os detalhes, a valorizar as pequenas coisas”, conta Débora. Para o pai, a filha simboliza o amor. “Quando a gente chega em casa e se depara com o sorriso dela, com esse olhar de gratidão, tudo faz sentido”, diz o pai Renato.
Segundo dados da Corregedoria Geral da Justiça, atualmente 122 crianças estão em processo de adoção. Apesar de o número de famílias pretendentes ser maior que o dobro, a conta não fecha por conta do perfil desejado.
História de Superação
Elizabete viveu uma tragédia. Ainda bebê, caiu da cama nas águas da grande enchente de 2014, em Porto Velho. Teve lesões na cabeça pela queda e pela perda de oxigênio em decorrência do afogamento. Ficou meses no hospital. Os médicos lutaram muito, mas tinham consciência de que o quadro era muito grave, de difícil recuperação.
Mas como a história da menina, que nasceu em Humaitá e filha de mãe dependente química, é permeada pelo improvável, Elisabete sobreviveu. As sequelas do acidente foram determinantes para os próximos capítulos de sua história.
Sem condições econômicas e, principalmente, psicológicas de cuidar da filha, os pais abriram mão e a Justiça, finalmente, decretou a perda do poder familiar, não sem antes tentar mantê-la no seio da família. Quando isso acontece a criança deve ir para uma unidade acolhedora (abrigo) até que seja adotada.
Elisabete enfrenta, a partir de então, novos percalços. O primeiro deles é o próprio abrigo, não preparado para suas necessidades especiais. Um bebê que se alimenta por sonda, com dificuldades locomotoras, inspira todo um cuidado que o Lar do Bebê, por mais que tivesse profissionais dedicados e amorosos, não conseguia suprir.
Outro grande obstáculo era o perfil para adoção. Com todas essas dificuldades, apesar de ser uma criança na faixa etária preferida pelos pretendentes a pais adotivos, Elisabete tinha característica que, na realidade dos abrigos, é fator desencorajador para muitos.
Felizmente, a menina sorridente e amorosa mostraria que sua história seria mesmo de superação. O sistema de proteção à criança conseguiu uma vaga para Elisabete na Casa Família Roseta, especializada em crianças com necessidades especiais. É nesse local acolhedor, com profissionais e voluntários abnegados, que ela encontrou um ambiente propício para seu surpreendente desenvolvimento nos seus 4 curtos anos de vida.
E no início de 2018, o improvável mais uma vez mostrou a todos ser a tônica da vidinha de Elizabete. Após uma campanha feita pelo Judiciário, uma família de São Paulo se interessou em adotar Elisa, como é mais conhecida por todos.
A família se habilitou, fez curso de preparação, passou por todas as etapas exigidas no processo de adoção e veio buscar a filha. Momento de grande emoção para todos os envolvidos.
Despedida
A despedida, ocorrida no dia 1º de novembro de 2018, na Casa Família Roseta, foi uma grande celebração ao amor e à solidariedade. Débora e Renato, seus novos pais, e o irmãozinho Pedro Gabriel foram recebidos com festa por cuidadores, voluntários, profissionais das instituições e do sistema de Justiça.
A juíza Sandra Merenda e o promotor MarcosTessila, acostumados a histórias dramáticas no cotidiano de trabalho, não contiveram a emoção de ver o encontro de Elisa com sua nova família. “Trata-se de um exemplo exitoso de adoção, no qual o acompanhamento da Justiça garante à criança o direito à convivência familiar e aos pais a segurança para o desenvolvimento integral aos seus filhos”, defendeu a juíza.
O esforço da Vara de Proteção à infância de Porto Velho tem sido no sentido de quebrar os tabus da adoção, incentivando a adoção de crianças maiores, adolescentes ou com necessidades especiais, e tem obtido ótimos resultados com essas ações estratégicas, como no caso de Elisa.
Poemas, canções, orações e depoimentos derramados marcaram esse momento, que representou um novo futuro para Elisa.
“Estamos muito felizes pelo carinho e afeto de todos. É muito bom saber que nossa filha teve todo esse amor de vocês. Podem ter certeza que, além do nosso amor, terá todo o esforço e empenho para se desenvolver muito mais”, disse o pai de Elisa. Renato contou que sua família e igreja estão em oração pela filha. Débora, a mãe, também emocionada, agradeceu pela ajuda e prometeu manter a todos informados sobre Elisa, afinal, “apesar da distância, os laços afetivos não podem ser rompidos”.
Os olhos espertos da menina, sua alegria e empolgação ao brincar com o irmãozinho, sua evidente satisfação em encontrar uma família, demostram que o improvável não é, definitivamente, um adjetivo no futuro de Elisa.
Assessoria de Comunicação Institucional