Justiça Itinerante Fluvial atende por dois dias a aldeia Ricardo Franco, no Rio Guaporé

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Quinta, 01 Agosto 2024 08:50

Justiça Itinerante Fluvial atende por dois dias a aldeia Ricardo Franco, no Rio Guaporé

Equipe do TJRO percorre comunidades no Vale do Guaporé

Fotografia mostra menina segurando certidão de nascimento e mulher segurando um bebê

O pequeno Raí foi registrado, mas não recebeu o nome indígena correto. Por isso, a mãe Sofia Jabuti Makurap procurou a Justiça Itinerante Fluvial para acrescentar Irapõa, o nome dado pelo bisavô, que significa menino guerreiro. Enquanto ele dormia tranquilamente no colo da avó, a mãe recebeu o documento com significado mais que simbólico para seu povo.

Fotografia mostra vários indígenas em uma maloca com servidores do TJRO durante a noite

Na aldeia Ricardo Franco, quarta localidade atendida pelo barco hospital Walter Bártolo, na operação da Justiça Rápida Fluvial no Vale do Guaporé, o sentimento de valorização da própria cultura está sendo cultivado pelas diversas etnias. Edileia Tupari e Clemilson Wajuru, por exemplo receberam apenas sobrenomes indígenas. Mas fizeram questão de batizar a filha, de dois meses, com um nome completo na língua, Überiká Criani Tupari Wajuru.

Fotografia mostra indígena segurando certidão

A saga de Tania Wajuru Canoé demonstra bem o quanto estão dispostos a reafirmar a identidade. Na operação do ano passado, ela acrescentou o Wajuru, sobrenome da mãe. Como tem três filhos precisou fazer a mudança também no documento das crianças. Porém, no registro da mais nova, Maria Gezabel, constava o nome antigo de Tânia. “Esperei a Justiça Rápida, porque na cidade ia demorar muito. Aqui já consegui na hora. Agora todas minhas filhas têm o meu nome correto na certidão de nascimento”, disse.

Mas o nome de Tânia ainda pode ter uma mudança, se depender dela e de um grupo da etnia (K) Canoé novos documentos passarão por correção, mas desta vez para corrigir um erro histórico. De acordo com um estudo antropológico e linguístico, a etnia deve ser grafada com K, ou seja, Kanoê. Por isso a professora Gleiciane Canoé veio fazer um apelo. “Nós queremos retificar os documentos de todos. É uma forma de valorização para a nossa língua, que já está sendo extinta”, solicitou.

O pedido inusitado, pela repercussão em cascata, recebeu um encaminhamento especial pela equipe. Após conversar com o cacique da aldeia Ricardo Franco, o juiz Thiago Aniceto se comprometeu, mediante a elaboração de um projeto, a acionar todos os órgãos ligados à documentação pessoal, como Tudo Aqui (RG), Receita Federal (CPF), Justiça eleitoral (título de eleitor) e até o INSS (benefícios sociais), para que as mudanças ocorram de forma integrada. “Se fizermos apenas as certidões de nascimento e casamento, poderíamos causar outros problemas para os indígenas, como interrupção de cadastros para recebimento de benefícios. Por isso, optamos por desenvolver um projeto conjunto com os demais órgãos, com a realização de uma operação específica”, explicou o magistrado, diante da demanda, que considerou legítima.

Conciliação virtual 

Outro atendimento que mobilizou a equipe foi a de uma ação de alimentos. Por meio de aplicativo foi realizada uma audiência de conciliação na qual a mãe estava presencialmente no barco, o pai em Guajará-Mirim e o filho, de 18 anos, em Porto Velho. Apesar de ser maior de idade, ainda faz o ensino médio, por isso ainda precisa do apoio financeiro. Ele abriu mão das pensões atrasadas, e das correções, desde que o pai depositasse o valor correto pelos próximos 18 meses. A conciliação é exitosa e a pensão é depositada antes mesmo de fechar a ata.

Conscientização

Na visita que a equipe fez à aldeia, alguns problemas foram detectados como relatos de violência doméstica, envolvimento de indígenas com tráfico de drogas e até porte de armas ilegais.

Diante disso, um bate papo com a comunidade foi agendado, para o final da tarde de terça-feira, antes do barco partir. Na ocasião, foram distribuídos materiais impressos sobre violência doméstica, inclusive cartilha de orientação de denúncias por meio de aplicativo específico. O magistrado destacou ainda os ciclos da violência, enfatizando as responsabilidades legais imputadas ao agressor.

A reunião teve ainda a participação do policial militar Ronaldo Sanches Feliszyn, que destacou, sob o ponto de vista da segurança pública, as consequências negativas de infração e crimes para as famílias da comunidade.

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Mais cultura

Mais um movimento de valorização cultural foi detectado pela equipe com a presença de lideranças femininas que foram ao barco para atendimento jurídico e de saúde, mas aproveitaram para apresentar peças de artesanato aos componentes da equipe do barco hospital e ainda convidar para uma apresentação de dança da associação Awandá, do povo Makurap, de resgate da cultura. “É a nossa tradição, né. Queremos manter viva”, destacou a indígena que tem uma rede social especialmente para a divulgação dessas manifestações (@darietempk).

Debaixo de um chapéu de palha, recém construído para justamente abrigar o legado dos povos, o grupo se apresenta aos convidados. “Foi emocionante ver as mulheres indígenas unidas por um propósito, de preservar a cultura delas”, disse Claudia Ferro, conciliadora do TJRO

Assessoria de Comunicação Institucional

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