HERANÇA POLÍTICA EM RONDÔNIA
Nilza Menezes
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O objetivo desse artigo é o de apresentar algumas imagens referentes às atividades políticas no espaço geográfico aonde viria a ser o Estado de Rondônia tomando por base documentos que fazem referencia as atividades eleitorais.
A leitura foi feita por meio dos documentos pertencentes ao acervo do Tribunal de Justiça do Estado, documentos esses referentes à Comarca de Santo Antonio do Rio Madeira no período de 1912 a 1930.
Quando Porto Velho era Amazonas e Santo Antonio era Mato Grosso, a vida política acontecia em Santo Antonio, até porque no primeiro momento Porto Velho era apenas um ponto estratégico onde haviam sido instalados os escritórios da Empresa Madeira Mamoré, território de controle estrangeiro.
Santo Antonio era o centro de poder, onde acontecia a vida social e política. Lá estava o centro econômico da região. Nos parece difícil apreender as imagens de Santo Antonio, ela é apenas uma memória, quase sem ruínas. Para ver Santo Antonio é preciso construir uma memória. Como em Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino (2002), torna-se difícil ver Santo Antonio porque ela definhou, desfez-se e foi esquecida pelo mundo. Só os sábios poderão conhecer Santo Antonio de cor, ela só é possível de ser apreendida através da memória que fará a cidade existir através da memória dos sinais. Assim Santo Antonio vai existir através da memória do que ela foi. De lá até os deuses foram embora, e deuses estranhos tomaram seus lugares. (Calvino, 2002).
Essas questões referentes ao processo de formação da região que hoje conhecemos por Estado de Rondônia têm gerado alguns transtornos na historiografia regional. Estuda-se Santo Antonio sempre como a cidade fantasma, aquela que desapareceu, que não pertencia ao lugar. Santo Antonio é daquelas cidades cujos desejos foram cancelados (Calvino, 2002).
Em razão do cancelamento dos desejos de Santo Antonio, busca-se criar uma identidade para o lugar a partir da construção da ferrovia e da criação do território colocando o período anterior como um tempo de passageiros e viajantes, o que tem causado alguns problemas para o entendimento da formação da região, criando-se um caos em uma parte da história separando-a e passando a contá-la como se ela surgisse do nada, dando-se mais importância a fatos históricos registrados oficialmente do que a observação das transformações ou cristalizações.
Isso é bastante perceptível no que diz respeito às cidades que existiam ao longo da ferrovia entre Santo Antonio e Guajará-Mirim durante as duas primeiras décadas. Todas tinham nomes que homenageavam políticos mato-grossenses e foram eliminadas trocando-se os nomes das vilas que sobreviveram. É o caso de Esperidião Marques, Presidente Marques, Generoso Marques hoje Guajará-Mirim e Abunã e Jacy Paraná.
Isso também pode ser observado na criação do Estado em 1982, novamente tentam retomar a história do lugar como se pudessem interromper o curso. Isso tem dificultado a criação de uma identidade, de uma tradição. Todos continuam sendo viajantes, estrangeiros e conseguem perceber como tempo histórico o tempo em que vivem. A todo tempo surgem salvadores da pátria jogando pelo rio o passado e construindo outra história.
Criando-se assim três momentos históricos e politicamente marcados por três fortes figuras. Marechal Candido Rondon no primeiro momento, Aluisio Ferreira no segundo e Jorge Teixeira de Oliveira no terceiro.
Conforme já observamos Santo Antonio do Rio Madeira era no início do século XX uma vila com uma grande estrutura de atendimento do Estado . Porto Velho era uma vila pertencente ao Estado do Amazonas e Guajará-Mirim uma vila no final da linha férrea. O trecho entre Santo Antonio e Guajará-Mirim possuía outras vilas. Santo Antonio centralizava o poder político e econômico da região.
No momento em que Santo Antonio existia para a documentação, vivia-se o período da primeira república, a lei eleitoral considerava eleitores todos os cidadãos brasileiros que soubesses ler e escrever e que tivessem idade superior a 21 anos. Mulher ainda não votava o que só vai acontecer em 1932, no entanto, clérigos, bacharéis, doutores, e militares exerciam o direito ao voto. Nesse período o voto era um direito não era obrigatório
No entanto se tomarmos por informação os nomes que figuraram nos documentos do período de Santo Antonio, vamos encoura-los em Porto velho na formação da Câmara de Vereadores em 1969. Essa é a nossa intenção nesse trabalho, demonstrar que não há como separar a Vila de Santo Antonio, como torna-la invisível, fantasmagórica. Ela é presente é vida, é a sociedade da vila de Santo Antonio que se esparrama por Porto Velho.
Conforme registros as atividades eleitorais na região surgem em 1914 quando foram eleitos os vereadores, sendo o prefeito nomeado pelo governo do Mato Grosso. O prefeito em 1914 era o Dr. Nesse período encontramos diversos documentos fazendo menção às atividades políticas dos cidadãos residentes na vila, sendo observado o envio de procurações para Cuiabá para participação em Assembléias e outras atividades políticas. Sento também observado que o juiz substituto assim como o promotor de justiça participavam sendo filiados ao partido Republicano, enviando procurações para serem representados nas reuniões do partido em Cuiabá. Os juizes não eram impedidos de participarem da política, embora conforme previa nesse período as atividades eleitorais fossem controladas pelo poder judiciário.
Os documentos trazem informações que já conhecemos. Apenas os homens exerciam o direito ao voto. O que as assinaturas podem ainda nos dizer é que 100 nomes de cidadãos que residiam em Santo Antonio e que preenchiam os requisitos da época para votarem, compareceram e votaram em Epitácio Pessoa. Nesse ano Epitácio Pessoa concorreu a presidência da República pelo partido
Francisco Matias, em seu livro OS PIONEIROS, que trata da ocupação Humana e Trajetória Política de Rondônia, aborda as sucessões eleitorais a partir de 1969, classificando como terceiro período político. Sobre o período anterior registra que de 1930 até 1943 as câmeras municipais ficaram fechadas em decorrência da revolução, sendo reabertas somente no ano de 1969. Tomando por base as periodizações já observadas como primeiro, segundo e terceiro período políticos abordaremos a presença política no primeiro período que vai de 1912 a 1920 em Santo Antonio do Rio Madeira fazendo uma ponte para o ano de 1969.
Em razão das transformações geográficas nos temos algumas problemas de identidade para com o lugar, e até causando observações fragilizadas quanto a falta de uma tradição política em decorrência dessa leitura interrompida.
O que ocorre é que com o desaparecimento de Santo Antonio, desaparece o lugar, as casas, as ruas, o lugar materializado, ficando algumas ruínas e algumas informações. Também isso ocorre com o que não é o lugar, com o que adornava o lugar. O lugar em parte se transporta, isso o torna continuado, a possibilidade de ver a cidade que já não existe está na
Bibliografia
CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis
MATIAS, Francisco. Os Pioneiros. Porto Velho, 1999999
NICOLAU, Jairo. A História do voto no Brasil. Zahar, Rio de Janeiro, 2002.